Em tempos de crise, como a que vive o estado do Rio Grande do Sul atualmente, é essencial adotar uma abordagem estruturada e empática para fornecer suporte psicológico necessário para pessoas em estado de crise. Nesse artigo, iremos direcionar para os cuidados a serem adotados ao conversarmos com pessoas que estão passando por um momento de crise. Os procedimentos a serem implementados devem priorizar a estabilização emocional, a segurança e o bem-estar das pessoas afetadas.
Inicialmente, é fundamental criar um ambiente seguro onde os indivíduos possam expressar suas emoções e pensamentos sem julgamento. Em seguida, é importante identificar e validar os sentimentos de cada pessoa, oferecendo escuta ativa e compreensão. Técnicas de intervenção em crise, como o fortalecimento das redes de apoio, o fornecimento de informações claras e precisas sobre a situação e a promoção de estratégias de enfrentamento saudáveis, são cruciais. Além disso, a identificação precoce de sinais de sofrimento severo e a referência para cuidados especializados quando necessário são passos imprescindíveis para garantir uma resposta eficaz e humanizada em momentos de adversidade.
O QUE FAZER?
- Seja honesto e confiável.
- Respeite o direito das pessoas decidirem por si mesmas.
- Esteja atento sobre suas preferências e preconceitos e coloque-os de lado.
- Deixe claro para as pessoas que mesmo que elas não queiram ajuda agora, elas poderão recebê-la posteriormente.
- Respeite a privacidade e mantenha a história da pessoa em sigilo, caso seja apropriado.
- Comporte-se apropriadamente, considerando a cultura, a idade e o gênero da pessoa.
O QUE NÃO FAZER?
- Não se aproveite da sua relação de cuidador.
- Não peça dinheiro ou favores para ajudar as pessoas.
- Não faça falsas promessas ou forneça falsas informações.
- Não exagere sobre suas habilidades.
- Não force as pessoas a receberem ajuda e não seja invasivo ou agressivo.
- Não pressione as pessoas para contar-lhe histórias pessoais.
- Não conte as histórias das pessoas aos outros.
- Não julgue as pessoas por suas ações ou sentimentos.
COMO COMPORTAR-SE
- Tente encontrar um lugar silencioso para conversar e limite as distrações externas.
- Respeite a privacidade e a confidencialidade da história da pessoa, conforme apropriado.
- Esteja perto, mas mantenha uma distância apropriada de acordo com a idade, o gênero e a cultura da pessoa.
- Mostre que você está ouvindo: por exemplo, balance sua cabeça ou diga “hmmmm…”
- Seja paciente e calmo.
- Forneça informações, se você as tiver. Seja honesto sobre o que você sabe e não sabe. “Eu não sei, mas eu vou me informar sobre isso para você.”
- Forneça informações de modo que a pessoa entenda – fale de maneira simples e clara.
- Permita o silêncio.
COMO NÃO COMPORTAR-SE
- Não pressione alguém para te contar sua história pessoal.
- Não interrompa ou apresse a história de alguém (por exemplo, não olhe no relógio ou fale muito rapidamente).
- Não toque a pessoa se você não tiver certeza de que é apropriado fazê-lo.
- Não julgue o que elas fizeram ou não fizeram ou como estão se sentindo. Não diga: “Você não deveria se sentir assim”, ou “Você deveria se sentir sortudo por ter sobrevivido.”
- Não invente coisas que você não conhece.
- Não use termos muito técnicos.
- Não conte a elas a história de outra pessoa.
- Não fale sobre seus próprios problemas.
- Não faça falsas promessas ou dê falsas garantias.
- Não pense ou aja como se você devesse resolver todos os problemas da pessoa no lugar dela.
- Não menospreze os esforços das pessoas e seu senso de capacidade de cuidar delas mesmas.
- Não fale sobre as pessoas utilizando termos negativos (por exemplo, não os chame de “loucos” ou “exagerados”)
Um suporte psicológico eficaz para pessoas em estado de crise é vital para promover a resiliência e a recuperação emocional das pessoas afetadas. As intervenções devem seguir princípios de empatia, segurança e suporte contínuo. Ao proporcionar um espaço seguro para a expressão emocional, validar as experiências individuais e reforçar as redes de apoio, podemos mitigar os impactos negativos da crise. Além disso, a capacitação de profissionais e a sensibilização da comunidade para identificar e responder a sinais de sofrimento severo são essenciais para facilitar a superação dos desafios impostos pela crise e promover um caminho saudável para a recuperação e o bem-estar emocional.
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