A ansiedade é uma resposta natural do corpo a situações de estresse, e provas, como o ENEM ou vestibulares, são ambientes que podem desencadear essa sensação de forma intensa. Milhões de estudantes experimentam nervosismo, medo e até bloqueios mentais diante de um exame, o que pode prejudicar significativamente o desempenho. Mas a boa notícia é que a ansiedade pode ser controlada.
Neste artigo, vamos explorar como você pode utilizar estratégias eficazes, baseadas em psicologia e neurociência, para gerenciar a ansiedade durante provas. Essas técnicas não só ajudam a aliviar o estresse, como também podem melhorar o desempenho cognitivo, permitindo que você se concentre melhor e acesse as informações que estudou.
1. Entenda o Papel da Ansiedade no Desempenho
A primeira coisa que precisamos reconhecer é que um certo nível de ansiedade pode ser benéfico. A teoria do “Yerkes-Dodson” sugere que há uma relação entre a excitação emocional e o desempenho. Até certo ponto, a ansiedade pode melhorar o foco e a energia, ajudando na resolução de problemas. No entanto, quando ultrapassamos um nível saudável de estresse, a ansiedade começa a prejudicar a performance, levando a bloqueios cognitivos e aumento dos erros (Teigen, 1994).
Portanto, o objetivo não é eliminar totalmente a ansiedade, mas gerenciá-la de forma a mantê-la em níveis que beneficiem sua performance.
2. Pratique Técnicas de Respiração para Reduzir a Ativação do Sistema Nervoso
Quando nos sentimos ansiosos, o corpo entra em modo de “luta ou fuga”, uma resposta natural do sistema nervoso simpático. Nesse estado, a respiração se torna superficial, os batimentos cardíacos aceleram, e os músculos ficam tensionados. Para reverter esse quadro e ativar o sistema nervoso parassimpático, que promove relaxamento, você pode praticar técnicas de respiração profunda.
Uma técnica eficiente é a respiração diafragmática, ou respiração abdominal. Siga estes passos:
- Inspire profundamente pelo nariz, enchendo o abdômen (não o peito).
- Segure o ar por alguns segundos.
- Expire lentamente pela boca, esvaziando o abdômen.
Estudos mostram que a respiração controlada pode diminuir significativamente os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, reduzindo a ansiedade em situações de pressão (Jerath et al., 2015). Ao praticar essa técnica durante a prova, você ajuda seu corpo a relaxar e sua mente a focar.
3. Use a Técnica da Reestruturação Cognitiva
Muitas vezes, a ansiedade que sentimos em provas é causada por pensamentos automáticos e irracionais, como “não vou conseguir” ou “vou esquecer tudo”. Esses pensamentos são amplamente estudados na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que ensina como substituí-los por crenças mais realistas e funcionais.
A técnica de reestruturação cognitiva envolve identificar esses pensamentos negativos e substituí-los por afirmações baseadas na realidade. Por exemplo, em vez de pensar “eu nunca vou passar nessa prova”, substitua por “eu me preparei bem, e posso confiar no meu conhecimento”. Esta abordagem reduz significativamente a ansiedade e melhora a confiança do aluno (Beck, 2011).
Pratique a reestruturação cognitiva durante sua rotina de estudos e leve essa mentalidade para o dia da prova. Lembre-se de que o medo e a ansiedade muitas vezes vêm de pensamentos distorcidos sobre a realidade da situação.
4. Aplique a Técnica de Mindfulness
A técnica de mindfulness, ou atenção plena, é uma ferramenta poderosa para controlar a ansiedade em situações de alta pressão. O mindfulness envolve focar sua atenção no presente, sem se deixar levar por preocupações sobre o futuro ou o passado. Ao praticar o mindfulness durante a prova, você pode reduzir pensamentos intrusivos, como “e se eu falhar?”, e focar apenas na questão à sua frente.
Estudos em neurociência mostram que a prática regular de mindfulness pode reduzir a reatividade da amígdala, a região do cérebro responsável pelas respostas de medo e ansiedade, e aumentar a função do córtex pré-frontal, a parte do cérebro que controla o pensamento lógico e a tomada de decisões (Tang et al., 2015).
Experimente praticar mindfulness antes da prova, reservando alguns minutos para se concentrar em sua respiração ou em uma sensação específica no seu corpo. Durante a prova, tente focar toda a sua atenção na questão que você está resolvendo, sem se preocupar com o restante.
5. Simule Situações de Prova com Frequência
Um dos maiores causadores de ansiedade em provas é a incerteza. Quando não estamos familiarizados com uma situação, nosso cérebro tende a interpretá-la como uma ameaça, aumentando os níveis de estresse. A melhor maneira de combater essa resposta é por meio da prática: simular o máximo possível o ambiente da prova.
A prática deliberada em condições semelhantes às da prova real prepara seu cérebro para lidar com o estresse, tornando o ambiente mais previsível e menos ameaçador. Simulações ajudam a reduzir a ansiedade e a melhorar o desempenho, já que o cérebro deixa de ativar o modo de “luta ou fuga” quando percebe a situação como familiar (Ericsson et al., 1993).
Durante a preparação para a prova, faça simulados em condições idênticas às do exame: reserve um tempo, sente-se em um ambiente silencioso, sem distrações, e siga as regras da prova.
6. Cuide do Seu Sono e Alimentação
Muitos estudantes cometem o erro de negligenciar o sono na véspera de uma prova importante, mas o sono é fundamental para o bom funcionamento cognitivo e para a consolidação da memória. Durante o sono, o cérebro processa as informações aprendidas, transfere-as para a memória de longo prazo e organiza o conhecimento adquirido (Diekelmann & Born, 2010). Durma entre 7 e 9 horas na noite anterior à prova.
7. Use Técnicas de Visualização Positiva
A visualização positiva é uma técnica usada por atletas de alto desempenho para imaginar o sucesso antes de uma competição. A mesma técnica pode ser aplicada a estudantes. A ideia é visualizar-se em situações de sucesso durante a prova, com confiança e calma, resolvendo as questões de maneira eficiente.
A neurociência mostra que, ao visualizar-se em uma situação de sucesso, seu cérebro ativa as mesmas áreas responsáveis pela execução real da tarefa. Isso ajuda a preparar seu cérebro para responder de forma mais confiante e eficiente no momento da prova (Guillot & Collet, 2008).
Tire alguns minutos por dia para se visualizar tendo sucesso na prova: imagine-se sentado, lendo as questões com calma, e resolvendo cada uma delas com segurança. Esse exercício simples pode reduzir a ansiedade e aumentar sua autoconfiança no dia do exame.
Conclusão
A ansiedade em provas é uma experiência comum, mas pode ser gerenciada de maneira eficaz com as técnicas certas. Ao entender o papel da ansiedade no desempenho, praticar respiração profunda, reestruturar seus pensamentos, aplicar técnicas de mindfulness, simular situações de prova, cuidar do sono e da alimentação, e usar a visualização positiva, você pode transformar sua resposta ao estresse em algo que impulsione seu desempenho, em vez de prejudicá-lo. Lembre-se: controlar a ansiedade é uma habilidade que pode ser aprendida e praticada, e com essas estratégias você estará mais preparado para enfrentar qualquer desafio acadêmico.
Richard Avilá, psicólogo graduado pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e estou terminando meu mestrado pela mesma universidade. Atualmente estou participando de duas formações profissionais, uma em terapia comportamental dialética (DBT) e outra para instrutores de mindfulness no modelo neurocognitivo. Por fim, mas não menos importante, meu atendimento clínico é minha principal atividade. ÁREAS DE ATUAÇÃO Tratamento para TOC individual e em grupo Terapia Cognitivo Comportamental para transtornos mentais Tratamento de ansiedade e manejo de estresse Tratamento para TDAH Tratamento para Borderline Tratamento para comportamento que coloca a vida em risco Tratamento individual para problemas de relacionamento
Referências
- Beck, J. S. (2011). Cognitive behavioral therapy: Basics and beyond. Guilford Press.
- Diekelmann, S., & Born, J. (2010). The role of sleep in memory consolidation. Nature Reviews Neuroscience.
- Ericsson, K. A., Krampe, R. T., & Tesch-Römer, C. (1993). The role of deliberate practice in the acquisition of expert performance. Psychological Review.
- Gómez-Pinilla, F. (2008). Brain foods: The effects of nutrients on brain function and cognition. Nature Reviews Neuroscience.
- Guillot, A., & Collet, C. (2008). Does motor imagery foster complex motor skill acquisition in sport?. International Review of Sport and Exercise Psychology.
- Jerath, R., Crawford, M. W., Barnes, V. A., & Harden, K. (2015). The physiology of long deep breathing: A neuroscientific insight. Medical Hypotheses.
- Tang, Y. Y., Holzel, B. K., & Posner, M. I. (2015). The neuroscience of mindfulness meditation. Nature Reviews Neuroscience.
- Teigen, K. H. (1994). Yerkes-Dodson: A law for all seasons. Theory & Psychology.