O vestibular é uma das fases mais desafiadoras da vida de um estudante. Meses (ou até anos) de preparação intensa, noites mal dormidas e um foco total nos estudos marcam essa fase. Porém, assim que a prova acaba, é comum sentir um misto de alívio e incerteza: O que fazer agora? Como retomar a rotina? Como lidar com as emoções pós-vestibular? Se você está passando por isso, não se preocupe, pois neste artigo vamos abordar como recomeçar de maneira saudável e produtiva.
1. Entendendo o “vazio” pós-vestibular
Depois de meses com um objetivo tão claro, é normal sentir um “vazio” quando a prova termina. Esse sentimento é compreensível e tem raízes tanto na psicologia quanto na neurociência. Ao estudar intensamente para o vestibular, seu cérebro se adapta a um nível constante de estresse e foco. Quando o estímulo desaparece, pode haver uma queda na liberação de neurotransmissores como a dopamina, que está relacionada à sensação de motivação e prazer (Lee et al., 2018).
Esse processo é natural e, com o tempo, seu cérebro se ajustará a uma nova rotina. No entanto, existem estratégias que podem ajudar a acelerar essa adaptação e promover uma sensação de bem-estar.
2. Dê-se tempo para relaxar
Após um período de tensão intensa, é fundamental dar ao corpo e à mente o descanso que eles merecem. Práticas de autocuidado, como técnicas de relaxamento ou meditação, podem ser extremamente úteis neste momento. A meditação, por exemplo, pode reduzir significativamente os níveis de cortisol — o hormônio do estresse — e aumentar a sensação de bem-estar (Tang et al., 2015).
Além disso, o relaxamento não precisa ser apenas físico. Fazer atividades que você gosta, como assistir filmes, sair com amigos ou simplesmente dormir, também ajuda a restaurar sua energia. Se você está pensando o que eu pensei quando era vestibulando, “eu deveria ter feito mais e não tenho direito de descansar agora”, saiba que isso não vai ajudar. Descansar é parte do processo e você precisa dele justamente agora para poder ver claramente o que está por vir.
3. Aceite suas emoções
Após o vestibular, é comum vivenciar uma montanha-russa emocional. Muitas pessoas relatam sentimentos de ansiedade ao relembrar a prova, tentando adivinhar se foram bem ou mal. Além disso, o medo do futuro — seja pela expectativa de aprovação ou pela incerteza do que fazer se o resultado não for o esperado — pode ser avassalador.
Aqui, as terapias cognitivo-comportamentais (TCC) podem ser bastante eficazes. A TCC ajuda a identificar e modificar padrões de pensamentos disfuncionais, promovendo uma mentalidade mais equilibrada e racional frente às adversidades (Hofmann et al., 2012).
A dica é: reconheça seus sentimentos sem julgá-los. Se está se sentindo ansioso ou desanimado, aceite essa emoção e lembre-se de que ela é temporária. Práticas como a aceitação e compromisso (ACT), uma abordagem contextual, podem ajudar você a lidar com essas emoções de forma mais flexível, sem tentar eliminá-las a todo custo (Hayes et al., 2006).
4. Reorganize sua rotina
Uma das melhores maneiras de evitar o “vazio” pós-vestibular é reorganizar sua rotina e definir novas metas. O vestibular não precisa ser o fim de tudo. Pense nas atividades que você deixou de lado por conta dos estudos e insira-as novamente na sua vida. Talvez seja hora de voltar a praticar um hobby, aprender uma nova habilidade ou simplesmente começar a se preparar para o que vem a seguir, como a faculdade ou outros projetos pessoais.
A neurociência destaca a importância de novas aprendizagens para o cérebro. Envolver-se em atividades que estimulam a plasticidade cerebral — como aprender um novo idioma ou um instrumento musical — pode ajudar a manter o cérebro ativo e motivado (Kleim & Jones, 2008).
5. Prepare-se para os resultados de forma saudável
A espera pelo resultado do vestibular pode ser angustiante, mas é importante lidar com essa fase de maneira saudável. Uma abordagem eficiente é focar no que está sob o seu controle. Por exemplo, você pode usar esse tempo para refletir sobre seu desempenho de forma construtiva ou planejar o que fazer caso o resultado não seja o esperado. Sendo sincero, você não deveria fazer isso sozinho, pois a tendência de você distorcer, se autocriticar e transformar esse processo em algo danoso é muito alto. O mais indicado é conversar com alguém que seja imparcial no assunto, exclua seus familiares dessa lista; logo, um profissional pode te ajudar com essa etapa.
Aqui, novamente, a TCC pode ajudar a mudar a forma como você enxerga essa espera. Em vez de ruminar sobre o que poderia ter sido feito de forma diferente, você pode trabalhar a reestruturação cognitiva para lidar com os pensamentos automáticos negativos, focando no presente e nas ações práticas que pode tomar (Beck, 2011).
6. Pense nas alternativas
Se por acaso o resultado não for o que você esperava, é importante ter em mente que isso não define seu valor ou seu futuro. Existem diversas alternativas para quem não passa no vestibular. Alguns exemplos são cursar uma faculdade menos concorrida, tentar outro curso que também desperte seu interesse ou investir em cursos técnicos e profissionalizantes.
Um ponto interessante a ser trabalhado é a resiliência — a capacidade de se recuperar diante das adversidades. Estudantes que lidam de forma resiliente com o fracasso costumam desenvolver uma maior capacidade de enfrentar futuros desafios (Seery et al., 2010). Dessa forma, mesmo que o resultado não seja o esperado, você terá adquirido habilidades valiosas ao longo desse processo que te ajudarão na próxima etapa.
7. Mantenha o autocuidado e o suporte social
Por fim, não subestime a importância do autocuidado e do suporte social neste momento. O autocuidado vai além de práticas de bem-estar físico e inclui também cuidar da saúde mental. Você pode, por exemplo, praticar exercícios físicos regularmente, uma vez que atividades como caminhada ou corrida têm comprovado efeito positivo na saúde mental, aumentando os níveis de endorfina e melhorando o humor (Ratey & Loehr, 2011).
O suporte social também é crucial. Converse com seus amigos e familiares (nem todos) sobre suas emoções. Muitas vezes, externalizar nossos sentimentos ajuda a processá-los de forma mais saudável.
Conclusão
O período pós-vestibular pode ser uma fase de transição desafiadora, mas com as estratégias certas, você pode recomeçar de maneira positiva e construtiva. Lembre-se de que esse é apenas o início de uma nova jornada, e como você lida com as emoções e reorganiza sua rotina pode fazer toda a diferença no seu bem-estar e sucesso futuro.
Richard Avilá, psicólogo graduado pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e estou terminando meu mestrado pela mesma universidade. Atualmente estou participando de duas formações profissionais, uma em terapia comportamental dialética (DBT) e outra para instrutores de mindfulness no modelo neurocognitivo. Por fim, mas não menos importante, meu atendimento clínico é minha principal atividade. ÁREAS DE ATUAÇÃO Tratamento para TOC individual e em grupo Terapia Cognitivo Comportamental para transtornos mentais Tratamento de ansiedade e manejo de estresse Tratamento para TDAH Tratamento para Borderline Tratamento para comportamento que coloca a vida em risco Tratamento individual para problemas de relacionamento
Referências
- Beck, J. S. (2011). *Cognitive behavioral therapy: Basics and beyond*. Guilford Press.
- Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (2006). *Acceptance and commitment therapy: An experiential approach to behavior change*. Guilford Press.
- Hofmann, S. G., Asnaani, A., Vonk, I. J., Sawyer, A. T., & Fang, A. (2012). *The efficacy of cognitive behavioral therapy: A review of meta-analyses*. Cognitive Therapy and Research.
- Kleim, J. A., & Jones, T. A. (2008). Principles of experience-dependent neural plasticity: Implications for rehabilitation after brain damage. Journal of Speech, Language, and Hearing Research.
- Lee, J. Y., Finkelstein, J., & Gritton, H. (2018). Dissecting dopamine mechanisms for learning about reward. Journal of Neuroscience.
- Ratey, J. J., & Loehr, J. E. (2011). The positive impact of physical activity on cognition during adulthood: A review. Journal of Clinical Psychiatry.
- Seery, M. D., Holman, E. A., & Silver, R. C. (2010). Whatever does not kill us: Cumulative lifetime adversity, vulnerability, and resilience. Journal of Personality and Social Psychology.