Contribuição da Família no Tratamento do TOC

Os impactos do TOC comprometem não só a vida do paciente, mas também de toda a família e pessoas à sua volta. Os familiares compartilham medos, ansiedades e sofrem com os rituais compulsivos intermináveis. Assim, os sintomas obsessivo-compulsivos interferem na rotina, na vida social e no lazer do paciente e da família. Com a intenção de ajudar o paciente e diminuir o sofrimento, a família acaba apoiando a realização dos rituais. Ou seja, atender as demandas do paciente acabar reforçando os sintomas do TOC e piora o andamento do transtorno. Por isso, é muito importante que a família esteja envolvida no tratamento do paciente com TOC e saiba quais comportamento não reforçar e o que fazer para lidar com as dificuldades. Nesse post, trago algumas atitudes que podem ajudar os familiares a lidarem com seus entes queridos diagnosticados com TOC.

Acomodação familiar

A maioria dos familiares de pacientes com TOC participa de alguma forma dos rituais, reforçando os comportamentos do paciente com TOC. É muito comum que os familiares se submetam a regras rígidas. Por exemplo, um adolescente com TOC de limpeza e contaminação que precisa lavar as mãos muitas vezes acaba gastando muito mais sabonete do que o necessário. Isso gera uma demanda financeira, sendo preciso comprar muitos sabonetes. A família, para evitar que o filho fique ansioso e consiga lavar as mãos compulsivamente, compra muito mais sabonete do que precisam. Perceba, portanto, que o comportamento da família traz alívio da ansiedade, mas reforça o ciclo do TOC. Assim, a família continua perpetuando o transtorno, uma vez que auxilia de alguma forma na compulsão de lavagem. Portanto, é um alívio temporário e ineficaz.

Dessa forma, a acomodação familiar é quando os familiares do paciente acomodam ele nos sintomas, auxiliando ou participando de alguma forma dos rituais compulsivos, reforçando as crenças distorcidas no TOC. 

A família no tratamento de TOC

Outro sintoma que pode ter acomodação familiar é a dúvida obsessiva. Pensamentos como “Será que fechei a porta?” ou “Será que atropelei alguém?” podem fazer com que o paciente necessite que os familiares afirmem que está tudo bem e que a porta foi sim fechada. No entanto, as dúvidas obsessivas podem surgir muitas vezes e com muita intensidade na mente dos pacientes com TOC. Desse modo, o envolvimento dos familiares gera profundo impacto porque gera emoções de frustração, raiva, culpa e desesperança, visto que, quando os familiares terminam de se envolver em um ritual, já surge outro. É muito importante, então, tanto para a saúde mental do paciente quanto para o funcionamento da família que os familiares compreendam o tratamento do TOC e deem apoio correto para a melhora dos sintomas. 

Ao entender os sintomas e o funcionamento, os familiares podem ser muito úteis para o tratamento do paciente com TOC. O primeiro passo para a família poder ajudar no tratamento de TOC é compreender como funciona o tratamento. Entender o modelo cognitivo-comportamental de como os sintomas atuam no funcionamento do paciente é muito importante para entender o quanto a acomodação familiar é prejudicial. Nesse sentido, outra ajuda que a família pode dar é identificar quando está tendo comportamentos de acomodação do paciente e não realizá-los. É importante, portanto, que um psicólogo esteja acompanhando a família e oriente os familiares corretamente, para evitar o sofrimento do paciente sem a acomodação.

Participação nas sessões 

A participação dos familiares em todas as etapas do tratamento é muito importante. Isso pode envolver a participação em algumas sessões da terapia, que serão previamente combinadas com o paciente. O objetivo é educar os familiares sobre o TOC e sobre os fatores da família que podem contribuir para a piora dos sintomas. Assim, é possível que a família esteja presente na etapa de coleta de informações, na fase de avaliação, no auxílio para as tarefas de casa e na prevenção de recaídas. O entendimento dos familiares sobre o tratamento é importante para que eles deem apoio ao paciente. O suporte correto durante o tratamento do TOC, dentro de seus papéis de familiares, é muito importante.

Além disso, é importante que a família compreenda que altos níveis de criticismo e de hostilidade estão associados a maus resultados na terapia. A tendência de um dos membros se responsabilizar pelos problemas do paciente também traz dificuldades e pode estar relacionada à acomodação familiar. Por isso, caso existam conflitos familiares, pode ser produtivo que a família faça uma terapia familiar.

Com relação à participação da família nas sessões de tratamento do TOC, a decisão de envolver os familiares ou não, se o paciente for adulto ou adolescente, é sempre do paciente. Ao longo do tratamento, é interessante realizar sessões conjuntas para que a família fale sobre a percepção dela quanto ao andamento dos exercícios e sobre a redução do sintoma. Além do mais, os familiares podem receber psicoeducação sobre o TOC, esclarecerem suas dúvidas e serem orientados em relação às atitudes mais adequadas. Exemplos podem ser: não participar da realização de rituais, não responder perguntas mais de uma vez, evitar críticas ou discussões, caso ocorram lapsos ou recaídas.

Apoio no tratamento

Além disso, é importante que a família compreenda o que acontece no tratamento. Nesse sentido, durante os exercícios da terapia de exposição e prevenção de resposta é comum o aumento inicial da ansiedade até chegar no momento da habituação e, então, a diminuição gradual dos sintomas. É necessário, portanto, que as atitudes da família estejam coerentes com a adesão do paciente. Nesse aspecto, podem ser feitas combinações para que os familiares participem de tarefas que o paciente tenha dificuldade de realizar sozinho, reduzindo a acomodação familiar. 

Atitudes que auxiliam o paciente

Ao longo desse post foram citados diversos comportamentos por parte da família que atrapalham o tratamento do paciente com TOC. Entendo que é importante levantar os comportamentos que encorajam o paciente a continuar em tratamento e são positivos para a melhora dos sintomas e da saúde mental. Sendo eles:

  1. Encorajar o paciente gentilmente a enfrentar as situações que ele evita. 
  2. Lembrar o paciente de que no início é muito difícil fazer uma exposição, pode provocar medo e ansiedade, mas que ele tem apoio da família.
  3. Procurar manter as combinações feitas com o psicólogo, como “Não vou lhe responder de novo porque combinamos isso com seu psicólogo”. Ou “Vou fechar o registro do seu chuveiro daqui a 5 minutos porque foi isso que nós combinamos com seu psicólogota”. Ser firme, sem ser autoritário. 
  4. Responder às perguntas apenas uma única vez ou o quanto for combinado em sessão. Afirme que é impossível ter certeza absoluta sobre todas as coisas, por isso é necessário conviver com incertezas e dúvidas.
  5. Dar garantias e reassegurar as coisas são atitudes que mantêm o TOC, cuide para não fazê-las. 
  6. Lembrar que ficar repetindo mentalmente as dúvidas ou culpas é inútil, já que não acrescenta novas evidências ou novos fatos que ajudem a chegar a um melhor entendimento da situação. Isso traz ansiedade e mantém as dúvidas na mente.
  7. Se disponibilizar a apoiar o paciente na realização dos exercícios, se ele quiser. Ou seja, permanecer ao seu lado durante as atividades que produzem muito medo/desconforto pode ser muito importante, mas nunca faça o exercício por ele. Você pode procurar distraí-lo da vontade de fazer um ritual.
  8. Lembrar o paciente de que as emoções negativas, como ansiedade e medo passam, e, em geral, desaparecem rápida e naturalmente. 
  9. Se houverem eventuais lapsos ou recaídas mais consistentes, de uma forma gentil e delicada, sugerir que o paciente procure novamente o psicólogo.

Como essas atitudes vão ajudar:

Esses comportamentos que a família pode realizar para ajudar no tratamento não são regras rígidas, inflexíveis ou autoritárias. No entanto, é muito importante que essas atitudes sejam construídas junto com o psicólogo que atende o paciente com TOC para ver se são comportamentos adequados às necessidades do paciente. Desse modo, os familiares ajudam positivamente no tratamento quando possuem uma atitude geral de aceitação do paciente, sem, entretanto, se submeter às suas regras e rituais do TOC. 

Além disso, é muito importante que os familiares não deixem de ter seus compromissos profissionais, horas de lazer e vida social por causa do TOC. Assim, participar de grupos de apoio com outros familiares de pacientes com TOC pode ser muito benéfico para conhecer como outras famílias estão lidando com as diferentes situações e com os sintomas de seus entes queridos.

Por fim, resumindo o post:

Entenda que a psicoeducação dos familiares sobre o TOC e sobre como funciona o tratamento é muito importante para que a participação deles contribua para reduzir a acomodação familiar e para diminuir os mal-entendidos em relação ao transtorno. A partir disso, a família pode ser de grande ajuda no tratamento. A família ajuda na elaboração da lista de sintomas, realização das tarefas de exposição e prevenção de resposta e na prevenção de recaídas. Desse modo, é muito importante que os familiares estejam em contato com o psicólogo do paciente, se assim o paciente se sentir confortável, para que o tratamento seja o melhor possível.

Referências:

Cordioli, A. V. (2014). TOC: Manual de terapia cognitivo-comportamental para o transtorno obsessivo-compulsivo. Artmed Editora.

Família no tratamento do TOC

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