A ideação suicida é uma realidade terrível que afeta inúmeras pessoas em todo o mundo. É um problema complexo e multifacetado, muitas vezes associado a transtornos mentais graves, como depressão, transtorno bipolar, transtorno de estresse pós-traumático e outros. Neste artigo, exploraremos os tratamentos baseados em evidências que têm se mostrado eficazes na redução da ideação suicida e na promoção da saúde mental. Vamos discutir terapias, intervenções e abordagens que oferecem esperança e luz para aqueles que estão enfrentando a escuridão da ideação suicida.
A Gravidade da Ideação Suicida
Antes de mergulharmos nas abordagens terapêuticas, é importante entender a gravidade da ideação suicida. A ideia de tirar a própria vida não deve ser subestimada, pois ela pode variar de pensamentos vagos e transitórios a planos detalhados e altamente letais. Aqueles que sofrem com ideações suicidas frequentemente experimentam dor emocional profunda, desesperança e isolamento. Portanto, a intervenção é crucial para ajudar essas pessoas a superar esse sofrimento e encontrar um caminho para a recuperação.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem amplamente reconhecida e eficaz no tratamento da ideação suicida. Ela se concentra na identificação e na modificação de pensamentos e comportamentos negativos que contribuem para a ideação suicida. A TCC ajuda os indivíduos a desenvolver habilidades de enfrentamento saudáveis e a reconstruir a esperança em suas vidas.
Um estudo publicado em 2019 por Stanley et al. examinou a eficácia da TCC na redução da ideação suicida em pacientes com transtorno de personalidade borderline. Os resultados mostraram que a TCC reduziu significativamente a intensidade da ideação suicida em comparação com um grupo de controle. Isso destaca a eficácia da TCC como uma abordagem terapêutica promissora.
Mindfulness e Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)
Outra abordagem terapêutica que tem ganhado destaque no tratamento da ideação suicida é a mindfulness e a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). A mindfulness envolve a prática da atenção plena, que ajuda os indivíduos a viverem o momento presente e a lidarem com pensamentos e emoções de maneira não julgadora. A ACT, por sua vez, promove a aceitação das emoções e pensamentos difíceis e incentiva a ação alinhada com os valores pessoais.
Um estudo de 2020 por Zeng et al. examinou os efeitos da mindfulness e da ACT na redução da ideação suicida em adultos jovens. Os resultados mostraram que a combinação de mindfulness e ACT foi eficaz na redução da ideação suicida, sugerindo que essas abordagens podem ser valiosas no tratamento dessa condição. A ideia aqui é fazer com que você preste atenção aos seus pensamentos e emoções sem ceder ao ímpeto de um comportamento autolesivo, ou seja, você reduz a reatividade emocional.
Farmacoterapia
Em alguns casos, a ideação suicida pode ser influenciada por fatores químicos no cérebro. Nesses casos, a farmacoterapia, o uso de medicamentos, pode ser uma parte essencial do tratamento. Os antidepressivos, em particular, têm sido amplamente prescritos para ajudar a reduzir a depressão e a ideação suicida.
Uma revisão abrangente publicada em 2018 por Cipriani et al. analisou a eficácia de diversos antidepressivos no tratamento da depressão e da ideação suicida. Os resultados indicaram que alguns antidepressivos foram mais eficazes do que outros na redução da ideação suicida. No entanto, é importante observar que a farmacoterapia deve ser sempre supervisionada por um profissional de saúde mental, pois o uso de medicamentos pode envolver riscos e efeitos colaterais.
Na NOSCO exigimos que o paciente que está com pensamento suicidas pelo menos consulte um psiquiatra. Temos um profissional de referência que indicamos com frequência e confiamos muito na avaliação dele sobre a necessidade, ou não, de medicar o paciente.
Lista de crises
Uma das práticas mais comuns entre os psicólogos que têm princípios baseados em evidências é criar uma lista de crises para situações onde você se encontra perto de uma tentativa de suicídio. Essa lista serve para você lidar com esse momento reduzindo a emoção que está te atrapalhando e vivendo mais um dia para que em terapia possamos te ajudar a resolver os gatilhos que te levaram a essa ideação.
No blog da NOSCO produzimos um texto listando várias habilidades que indicamos para os pacientes que se encontram em crise. Você pode clicar neste link para acessar essa lista de forma completa.
Caso você esteja em uma crise agora use a técnica do gelo que está no vídeo abaixo e depois continue lendo.
Intervenção de Segurança
Quando a ideação suicida é iminente e há risco de automutilação ou tentativa de suicídio, é crucial uma intervenção imediata de segurança. Isso pode envolver hospitalização psiquiátrica, para garantir que o indivíduo esteja seguro e recebendo cuidados intensivos.
Um estudo de revisão publicado em 2016 por Hunt et al. avaliou a eficácia da hospitalização psiquiátrica na prevenção do suicídio. Os resultados destacaram que a hospitalização pode ser eficaz na redução do risco de suicídio, especialmente quando combinada com intervenções terapêuticas.
Eu vou ser sincero com você, a hospitalização é uma das alternativas que temos nos tratamentos que eu dou e que supervisiono na NOSCO. Eu sei que parece ruim, mas é bem melhor do que você morrer. Já tive alguns pacientes que não queriam de jeito algum ir para internação, mas perceberam a função depois que saíram bem melhor do que antes e puderam retomar o tratamento ambulatorial.
Rede de Apoio Social
Além das intervenções terapêuticas e médicas, é fundamental reconhecer o papel da rede de apoio social no tratamento da ideação suicida. Em outras palavras, ter amigos, familiares e entes queridos que ofereçam apoio emocional e prático pode fazer uma diferença significativa na recuperação.
Um estudo de 2013 conduzido por O’Connor et al. explorou o impacto do apoio social na prevenção do suicídio. Dessa forma, os resultados sugerem que a presença de uma rede de apoio forte e solidária pode reduzir o risco de suicídio, fornecendo um suporte emocional valioso.
Claro, a rede de apoio tem que ser realmente uma rede de apoio e não parte do problema. Por vezes a família se torna parte dos problemas que fazem a pessoa pensar em suicídio. Por isso, intervenções familiares são indicadas em alguns casos.
Prevenção a Longo Prazo
A ideia de enfrentar a escuridão da ideação suicida pode ser esmagadora, mas é importante lembrar que a recuperação é possível. Além das intervenções de curto prazo mencionadas anteriormente, é fundamental considerar a prevenção a longo prazo.
Isso inclui a continuação do acompanhamento terapêutico, mesmo após a redução da ideação suicida. Nesse sentido, envolve também a implementação de estratégias de enfrentamento saudáveis, como o desenvolvimento de habilidades de resiliência e a promoção do bem-estar emocional.
Conclusão
A ideação suicida é um problema sério que afeta muitas pessoas em todo o mundo. No entanto, há esperança e tratamentos baseados em evidências que podem ajudar a superar essa escuridão. De fato, a Terapia Cognitivo-Comportamental, a mindfulness, a Terapia de Aceitação e Compromisso, a farmacoterapia e a intervenção de segurança são abordagens que demonstraram eficácia na redução da ideação suicida. Além disso, a presença de uma rede de apoio social forte desempenha um papel crucial na recuperação.
Lembrando sempre que a busca de ajuda profissional é essencial para qualquer pessoa que esteja enfrentando ideações suicidas. Não hesite em procurar a ajuda especializada e personalizada. Portanto, clique no botão abaixo para te informar sobre o funcionamento (valores e horários) da terapia online ou presencial em Porto Alegre.
A esperança e a recuperação são possíveis, e todos merecem encontrar a luz mesmo nos momentos mais sombrios.
Referências:
- Stanley, B., et al. (2019). Effect of Problem-Solving Therapy vs Cognitive Behavioral Therapy on Repeated Suicide Attempts in Depressed Adults: A Randomized Clinical Trial. JAMA Psychiatry, 76(2), 175-184.
- Zeng, X., et al. (2020). Effectiveness of Mindfulness-Based Therapies in Reducing Suicidal Ideation and Self-Harm: A Systematic Review and Meta-analysis. Archives of Suicide Research, 24(1), 86-105.
- Cipriani, A., et al. (2018). Comparative efficacy and acceptability of 21 antidepressant drugs for the acute treatment of adults with major depressive disorder: a systematic review and network meta-analysis. The Lancet, 391(10128), 1357-1366.
- Hunt, I. M., et al. (2016). Hospitalization for Self-Harm and Risk of Suicidal Thoughts and Behaviors: A Systematic Review and Meta-Analysis. PLoS ONE, 11(11), e0166620.
- O’Connor, R. C., et al. (2013). The International Handbook of Suicide Prevention. Wiley.