Os sintomas de TOC são muitos. Ou seja, o TOC é multidimensional. Para dividir os sintomas em categorias e compreender melhor o transtorno foram desenvolvidas 5 dimensões: contaminação/limpeza, dúvidas e verificações, pensamentos repugnantes (agressivos/sexuais/blasfemos), simetria/ordem e acumulação compulsiva (colecionismo). Assim, entenda que as 5 dimensões do TOC são categorias de sintomas. E cada uma das dimensões possuem sintomas obsessivos e sintomas compulsivos.
Esse post tem como objetivo explicar cada uma das 5 dimensões do TOC, e seus sintomas obsessivos e compulsivos.
Obsessões
Inicialmente, é importante contextualizar que as obsessões no TOC são os sintomas de pensamentos, impulsos ou imagens persistentes que aparecem na mente sem que o paciente possa controlar e causam muito desconforto. E possuem 4 características:
- Intrusivas: difíceis de controlar ou de afastar e surgem na mente sem que exista vontade para tal pensamento;
- Indesejadas: ativam emoções de ansiedade e medo, causado sofrimento;
- Provocam resistência: induzem o paciente a lutar contra, ignorar ou fazer tentativas de suprimir ou neutralizar o pensamento obsessivo, geralmente sem sucesso;
- Egodistônicas: o conteúdo das obsessões causam estranhamento no indivíduo e não vão de acordo com seus valores e desejos pessoais.
Compulsões
As compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que o paciente com TOC executa como uma forma de lidar com as obsessões. O objetivo das compulsões, então, é tentar afastar as ameaças, reduzir os riscos ou prevenir desastres. Isso alivia o desconforto gerado pelos pensamentos obsessivos. No entanto, as compulsões não são tentativas efetivas para resolver o desconforto da obsessão, visto que acabam mantendo o sintoma de TOC, reafirmando a obsessão.
Além disso, as compulsões podem ser mentais. Em outras palavras, são atos mentais voluntários como: contar, rezar, repetir palavras ou frases em silêncio, repassar argumentos mentalmente, substituir imagens ou pensamentos ruins por imagens ou pensamentos bons. A intenção das compulsões mentais, portanto, é a mesma: reduzir ou eliminar o risco e a ansiedade associada às obsessões. Porém, a tendência dos sintomas do TOC é continuar vindo na mente da pessoa. Consequentemente, as compulsões se tornam cada vez mais frequentes.
Medo de contaminação, lavagens excessivas e evitações
Vamos para a primeira dimensão de sintomas: limpeza e contaminação. Os sintomas de contaminação, lavagens excessivas e evitações são os sintomas mais comuns nos pacientes com TOC. Se você tem esses sintomas, você sabe como é ruim ter muitas preocupações com a possibilidade de se contar ou de estar contaminado com algo. Desse modo, os sintomas são pensamentos obsessivos de estar contaminado com germes, bactérias, “energias negativas”, entre outros contaminantes.
O medo e a ansiedade são tão grandes e desconfortáveis que, na tentativa de acalmá-los e lidar com os pensamentos de contaminação, o paciente realiza comportamentos compulsivos de lavar demasiadamente as mãos, tomar banhos demorados, verificar compulsivamente se não tocou em algo sujo. Assim, as compulsões dentro desse tipo de sintoma do TOC podem usar exageradamente sabonetes e detergentes, podendo causar outros problemas de saúde.
Comportamentos
Além disso, outro tipo de comportamento compulsivo que existe na dimensão de contaminação e limpeza é evitar lugares que possivelmente possam contaminar. Ou seja, evitam ir em hospitais, ficam distantes de cemitérios, ao andar na rua ficam longe de lixeiras. Ou evitam tocar em lugares que muitas pessoas tocam, como maçanetas, botões, etc.
Dessa maneira, os pacientes com sintomas da dimensão de contaminação e limpeza avaliam de maneira distorcida e exagerada o risco de se contaminar. Isso aumenta a gravidade das consequências, o que faz com que os rituais compulsivos de limpeza, verificações e evitações aconteçam como uma forma de lidar com as obsessões. Nesse sentido, as distorções de pensamento estão presentes nos sintomas de TOC, e ajudam a manter os sintomas do TOC. E é muito importante que você entenda como funcionam os sintomas para conseguir tratá-los da forma correta. A terapia é muito importante para te ajudar nisso.
Dúvidas, intolerância à incerteza e verificações
As verificações também são um dos sintomas mais comuns no TOC e fazem parte dos sintomas das outras dimensões. Dessa maneira, o comportamento de verificar algo surge por causa da necessidade de ter certeza de que um dano ou possível ameaça não aconteceu ou não acontecerá. Desse modo, a intolerância à não certeza é uma característica dos pacientes com TOC. O sintoma de verificação geralmente surge a partir de dúvidas obsessivas. Assim, o paciente com TOC é impulsionado a realizar o comportamento de verificar se está tudo bem e que ele ou seus familiares não correm riscos.
Os comportamentos de verificação podem ser checar se o fogão ou o gás foram desligados para evitar uma acidente, ou verificar se não atropelou alguém de carro ao voltar do trabalho. Além do mais, as verificações podem ser mentais, como reler compulsivamente mensagens que enviou para alguém com medo de ter falado algo obsceno ou errado. Ou repassar mentalmente um acontecimento para ter certeza de que nenhum detalhe foi esquecido. A verificação pode acontecer, então, para lidar com a ideia de perfeccionismo do paciente.
Por que esses sintomas acontecem?
Esses sintomas acontecem porque o paciente com TOC se responsabiliza muito pelos possíveis acontecimentos ruins. O impulso de realizar verificações é intenso, e reforça a ideia de que a culpa seria do paciente caso algo ruim acontecesse ou caso ele cometesse um erro e não fosse perfeito. Perceba que, ao verificar, você faz um comportamento que vai de acordo com a lógica de que está evitando uma catástrofe, apesar de que não há evidências que sustentem que o acontecimento ruim realmente aconteceria.
Pensamentos repugnantes de agressão, sexo ou religião
Outra dimensão do TOC são os sintomas de pensamentos indesejáveis e perturbadores que envolvem agressão física, violência sexual ou blasfêmias religiosas. Um paciente com TOC acredita – e pensa – que pode vir a realizar atos agressivos contra si mesmo ou a outras pessoas. Muitas vezes, os pacientes passam a acreditar em seus pensamentos e a acharem realmente que cometeram um erro. Isso é chamado de fusão cognitiva. Ou seja, quando fundimos os nossos pensamentos (que existem apenas em nossas mentes) com as nossas ações (comportamentos reais), pensando que o que passou na mente é a realidade.
Dessa forma, os sintomas de pensamentos repugnantes de agressão, sexo ou religião geram uma baixa autoestima. Isso tem um impacto negativo na saúde mental e continua reforçando a crença de que o paciente é uma pessoa que pode vir a cometer agressões.
Os comportamentos para lidar com as obsessões de pensamentos agressivos dentro dessa dimensão são criar medidas de segurança. Por esse motivo que é muito comum que os pacientes escondem facas para evitar que possam usá-las, evitar passar perto de pedestres quando estão dirigindo, não andar na frente de escolas com medo de fazer algo contra uma criança, deixar de cumprimentar pessoas, procurar possíveis substâncias que possam machucar alguém em casa… perceba, portanto, que o comportamento de verificação é muito presente nessa dimensão.
É possível dividir as obsessões dessa dimensão em três:
- Conteúdo agressivo: é quando o paciente pensa que pode ocasionar uma violência ou tem pensamentos intrusivos sobre poder violentar outra pessoa, causando muito medo e angústia.
- Conteúdo sexual: são pensamentos ou imagens que surgem na mente sem que o paciente tenha controle sobre cenas de conteúdo sexual inaceitáveis. Esses pensamentos atormentam os pacientes e são acompanhados de muita angústia, medo, culpa e até depressão. Assim, surgem os comportamentos compulsivos de tentar afastar os pensamentos da mente ou comportamento evitativo. Além disso, ter dúvidas obsessivas sobre a própria orientação sexual também pode ser um tipo de obsessão dessa dimensão.
- Conteúdo blasfemo: são pensamentos obsessivos relacionados às crenças religiosas, como dúvidas se Deus não ama o paciente ou que o paciente não ama a Deus.
Além disso, outros sintomas do TOC podem ser os pensamentos supersticiosos de que um determinado número ou uma cor são capazes de prevenir uma desgraça. A partir disso surgem regras do tipo “o número 13 está relacionado ao azar” ou “tal cor indica que algo ruim vai acontecer, então nunca posso vestir essa cor”. Isso faz com que o paciente se responsabilize excessivamente pelo acontecimento negativo.
Dessa maneira, se você se identificou com algum dos sintomas citados, procure atendimento psicológico. Existe tratamento para TOC baseado em evidências científicas que vão te ajudar a diminuir os seus sintomas e a viver uma vida melhor. E lembre-se: apenas um profissional da saúde pode avaliar se é Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
Ordem, alinhamento, simetria
Os sintomas da dimensão de ordem, alinhamento e simetria estão relacionados aos pensamentos de que as coisas precisam estar alinhadas ou estarem de uma determinada forma para as coisas estarem “certas”. Ou seja, se um determinado objeto fica “fora do lugar”, emoções de medo e angústia surgem. Desse modo, os pacientes com esses sintomas perdem muito tempo organizando as roupas, alinhando objetos em casa, e catalogando seus objetos em cores e tamanhos. Esses são os comportamentos compulsivos, que podem durar por muitas horas do dia, fazendo com que ocorram atrasos para compromissos. Assim, as compulsões se tornam rituais de alinhamento e de simetria causando muito prejuízo para os pacientes.
Por que esses sintomas acontecem?
Entenda que esses sintomas acontecem para que o paciente tenha a sensação de que as coisas estejam “certas”. E se as coisas não estiverem exatamente daquela forma, pensamentos negativos surgem, como se algo fosse dar errado. A partir disso, se criam as autoregras, que são auto comandos que o próprio paciente cria para si mesmo dizendo o que precisa ser feito para que tudo esteja “certo”. Essas autoregras podem ser alinhar os objetos, comer o almoço por uma determinada ordem dos alimentos, colocar os quadros em uma ordem específica, entre outros.
Além disso, perceba que o conteúdo dos sintomas do TOC – as preocupações do paciente está muito relacionado com a história de vida dele. Por isso, os sintomas são agrupados em 5 dimensões, mas o conteúdo dos sintomas pode variar de pessoa para pessoa. Portanto, buscar ajuda profissional de um psicólogo é importante para entender quais são os seus sintomas mais leves até os mais graves e, desse modo, conseguir construir um plano de tratamento adequado para o seu contexto.
Acumulação compulsiva
A última dimensão do TOC é a acumulação compulsiva. Esses comportamentos são a tendência de guardar objetos que na realidade não terão utilidade no futuro ou qualquer valor afetivo. Melhor dizendo, o comportamento de acumular pela sensação de estar guardando algo que pode vir a ser útil, mas nunca é. Essa dimensão traz muito prejuízo porque os espaços da casa passam a ser usados para a acomulação, o que dificulta o uso diário do espaço. Além disso, também existe o transtorno de acumulação compulsiva, que é outro tipo de transtorno diferente do TOC. Por isso, é importante consultar um profissional para te ajudar a identificar o que você pode estar passando.
TOC é um transtorno heterogêneo
Por fim, o TOC é um transtorno que se manifesta em diferentes tipos de sintomas. É importante compreender as funções de cada um dos sintomas e de que forma o ciclo do TOC continua acontecendo e mantendo os sintomas existentes. Dessa forma, os comportamentos de compulsão tem a função de produzir alívio, afastar ameaças e de ter a sensação de que os riscos foram totalmente eliminados. De acordo com o modelo cognitivo-comportamental, as compulsões contribuem para a perpetuação do transtorno. Identificá-las é crucial para a proposição de intervenções psicoterápicas mais específicas.
Referências:
Cordioli, A. V. (2014). TOC: Manual de terapia cognitivo-comportamental para o transtorno obsessivo-compulsivo. Artmed Editora.