Introdução
O tratamento oncológico coloca enormes desafios tanto para o corpo quanto para a mente. Além dos efeitos físicos das terapias, como quimioterapia e radioterapia, os pacientes enfrentam enormes impactos emocionais e cognitivos. Felizmente, o cérebro humano possui uma incrível capacidade de adaptação chamada **neuroplasticidade**. Essa habilidade permite que o cérebro reorganize suas conexões neurais para lidar com o estresse, a dor e as alterações cognitivas decorrentes do tratamento. Neste texto, abordaremos como a neuroplasticidade atua durante o tratamento do câncer e descreveremos 7 estratégias baseadas em evidências para fortalecer essa capacidade adaptativa, promovendo resiliência e bem-estar durante essa jornada.
O Que é Neuroplasticidade?
A **neuroplasticidade** é a capacidade do cérebro de se reorganizar e formar novas conexões neuronais ao longo da vida. Esse processo ocorre em resposta a estímulos externos (como experiências e aprendizados) e internos (como traumas físicos e emocionais). Durante o tratamento oncológico, a neuroplasticidade permite que o cérebro se adapte aos desafios impostos, minimizando os danos causados por fatores como o estresse crônico e os efeitos colaterais da quimioterapia. No entanto, esse processo de adaptação pode ser potencializado por meio de estratégias que estimulam o cérebro e aumentam sua resiliência.
7 Estratégias para Fortalecer a Neuroplasticidade Durante o Tratamento Oncológico
1. Exercício Físico Regular
O exercício físico é uma das maneiras mais eficazes de estimular a neuroplasticidade. Movimentar o corpo, seja através de caminhadas leves, yoga, natação ou outros tipos de exercícios, aumenta a produção de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), uma proteína que promove o crescimento de novas sinapses e a regeneração neuronal. Além disso, o exercício físico ajuda a reduzir o estresse e melhora o humor, sendo especialmente benéfico para pacientes em tratamento oncológico, que frequentemente enfrentam fadiga e desafios emocionais.
Estudos sugerem que atividades físicas regulares podem não apenas melhorar a função cognitiva, mas também ajudar a diminuir os efeitos do “chemo brain” — um termo usado para descrever os problemas cognitivos relacionados à quimioterapia (Erickson et al., 2011).
2. Estímulos Cognitivos e Novas Aprendizagens
Engajar-se em atividades cognitivas desafiadoras é outra maneira de aumentar a neuroplasticidade. Jogos de raciocínio, quebra-cabeças, leitura e aprender novas habilidades (como um idioma ou um hobby criativo) mantêm o cérebro ativo e promovem a formação de novas conexões neurais. Esses estímulos podem ser particularmente úteis para combater os efeitos cognitivos negativos do tratamento oncológico, ajudando o cérebro a se adaptar e compensar as perdas cognitivas.
Além disso, a aprendizagem contínua reforça as funções executivas do cérebro, como a memória, a atenção e a resolução de problemas, áreas que são frequentemente afetadas durante o tratamento de câncer (Clemens et al., 2017).
3. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é amplamente reconhecida como uma intervenção eficaz para ajudar pacientes com câncer a gerenciar os desafios emocionais e cognitivos. Essa abordagem terapêutica ensina os pacientes a identificarem pensamentos disfuncionais e substituí-los por outros mais saudáveis e realistas. A TCC pode ajudar os pacientes a lidarem com a ansiedade e a depressão, frequentes durante o tratamento oncológico, ao mesmo tempo em que promove a neuroplasticidade.
Pacientes que praticam as técnicas da TCC demonstram uma maior capacidade de resiliência, uma vez que a terapia os ensina a gerenciar o estresse de maneira mais eficaz e a fortalecer suas conexões emocionais e cognitivas (Moorey & Greer, 2012).
4. Práticas de Mindfulness e Meditação
O **mindfulness** e a **meditação** são práticas cada vez mais recomendadas para pacientes em tratamento oncológico. Essas técnicas de atenção plena promovem a resiliência emocional e ajudam a reduzir os níveis de estresse e ansiedade. O mindfulness estimula a conectividade entre áreas do cérebro responsáveis pela regulação emocional, como o córtex pré-frontal e a amígdala. Essa prática tem sido associada a mudanças estruturais no cérebro que promovem uma maior estabilidade emocional e foco.
Além disso, a meditação aumenta a produção de GABA (ácido gama-aminobutírico), um neurotransmissor que desempenha um papel importante na redução do estresse e na melhoria da função cognitiva (Hölzel et al., 2011).
5. Sono Adequado
O sono desempenha um papel crucial no fortalecimento da neuroplasticidade, especialmente durante períodos de estresse elevado, como o tratamento oncológico. O sono é o momento em que o cérebro processa informações e experiências, consolida memórias e repara tecidos neurais. A privação de sono pode prejudicar significativamente a capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar suas conexões, aumentando o risco de dificuldades cognitivas.
Incorporar práticas de higiene do sono, como manter uma rotina de sono regular, evitar a exposição a luzes artificiais antes de dormir e criar um ambiente propício ao descanso, pode ajudar os pacientes a melhorarem sua qualidade de sono e, consequentemente, fortalecer sua resiliência mental e emocional (Walker, 2017).
6. Nutrição e Suplementação
A nutrição adequada desempenha um papel vital na saúde cerebral e na neuroplasticidade. Contudo, não posso abordar esse tema, pois sou psicólogo e não possuo a expertise para te informar o que é adequado e o que não é. Por isso, consulte um nutricionista!
7. Apoio Social e Terapia em Grupo
Manter uma rede de apoio social sólida é fundamental para promover a resiliência e a saúde mental durante o tratamento oncológico. O contato regular com familiares, amigos e grupos de apoio libera neurotransmissores como dopamina e serotonina, que estão diretamente ligados à sensação de bem-estar. Além disso, a interação social pode estimular o cérebro, ajudando a fortalecer as conexões neurais envolvidas no processamento emocional.
Terapias em grupo e participação em grupos de apoio específicos para pacientes com câncer oferecem oportunidades para compartilhar experiências e se conectar com outras pessoas que estão passando por desafios semelhantes. Esses ambientes de apoio promovem a resiliência emocional e ajudam o cérebro a lidar melhor com o estresse (Robinson et al., 2017).
Conclusão
A neuroplasticidade é uma ferramenta poderosa que permite que o cérebro se adapte aos desafios do tratamento oncológico, promovendo resiliência emocional e cognitiva. As 7 estratégias descritas — desde o exercício físico e a estimulação cognitiva até o sono adequado e o apoio social — podem ajudar a fortalecer essa capacidade natural do cérebro, promovendo uma recuperação mais eficaz e saudável.
Referências:
Aqui estão todas as referências utilizadas no formato da APA:
1. Ahles, T. A., & Root, J. C. (2018). Neurocognitive impairment in cancer survivors. *Journal of Clinical Oncology*, 36(19), 1980-1989.
2. Lupien, S. J., McEwen, B. S., Gunnar, M. R., & Heim, C. (2009). Effects of stress throughout the lifespan on the brain, behaviour and cognition. *Nature Reviews Neuroscience*, 10(6), 434-445.
3. Janelsins, M. C., Kesler, S. R., Ahles, T. A., & Morrow, G. R. (2014). Prevalence, mechanisms, and management of cancer-related cognitive impairment. *The Oncologist*, 19(7), 707-715.
4. Tang, Y.-Y., Hölzel, B. K., & Posner, M. I. (2015). The neuroscience of mindfulness meditation. *Nature Reviews Neuroscience*, 16(4), 213-225.
5. Erickson, K. I., Gildengers, A. G., & Butters, M. A. (2011). Physical activity and brain plasticity in late adulthood: A conceptual review. *Ageing Research Reviews*, 10(4), 435-447.
6. Hölzel, B. K., Carmody, J., Vangel, M., Congleton, C., Yerramsetti, S. M., Gard, T., & Lazar, S. W. (2011). Mindfulness practice leads to increases in regional brain gray matter density. *Psychiatry Research: Neuroimaging*, 191(1), 36-43.
7. Moorey, S., & Greer, S. (2012). Cognitive behaviour therapy for depression in cancer patients: A new approach. *Psycho-Oncology*, 21(7), 715-723.
8. Robinson, P., & Taylor, R. (2017). Psychosocial support in breast cancer: A review of available evidence and guidelines. *European Journal of Cancer Care*, 26(1), e12583.
9. Walker, M. P. (2017). The role of sleep in cognition and emotion. *Annals of the New York Academy of Sciences*, 1406(1), 10-45.