Resiliência Mental: Construindo Forças para Enfrentar os Momentos Mais Difíceis

O conceito de resiliência mental se refere à capacidade de uma pessoa enfrentar e superar as situações que oferecem risco ao seu bem estar, desenvolvimento e saúde mental(Reppold et al, 2012), seja no âmbito familiar, no trabalho ou nas relações interpessoais. Assim como um músculo que pode ser fortalecido com o tempo, a resiliência mental pode ser desenvolvida e aprimorada com prática e técnicas adequadas. Neste texto, utilizaremos conceitos da terapia cognitivo comportamental (TCC) para desenvolver esse tema. 

1. Reconhecendo os Pensamentos Distorcidos

A TCC ensina que nossos pensamentos desempenham um papel crucial na forma como interpretamos os eventos de vida, sendo assim, a nossa capacidade de resiliência está relacionada com os nossos pensamentos. Muitas vezes, enfrentamos momentos difíceis devido a pensamentos distorcidos, como a catastrofização (exagerar o impacto negativo de uma situação) ou a personalização (assumir que somos os culpados por tudo de ruim que acontece). Porém, identificar esses pensamentos distorcidos é o primeiro passo para construir resiliência mental. Nesse sentido, o psicólogo Robert R. Leahy (2018) elaborou uma lista com as distorções cognitivas mais comuns, são elas:

  • Leitura mental: Você imagina que sabe o que as pessoas pensam sem perguntar a elas, apenas pela presunção. Por exemplo: “Ele acha que eu sou um perdedor”ou ‘’com certeza aquela pessoa deve estar me julgando agora’’. 
  • Adivinhação do futuro: Você prevê o futuro – que as coisas vão piorar ou que há perigos pela frente. Por exemplo, “Vou ser reprovado no exame” ou “Não vou conseguir o emprego”. Muitas vezes essa distorção leva o paciente a desistir de coisas antes de tentar. 
  • Raciocínio emocional: Você deixa os sentimentos guiarem sua interpretação da realidade. Por exemplo: “Eu me sinto triste e sozinha, logo alguma coisa deve estar errada com o meu trabalho ou relacionamento’’. 
  • Filtro negativo: Você foca quase que exclusivamente nos aspectos negativos e raramente nota os positivos. Por exemplo: “Aconteceram apenas coisas ruins hoje, que péssimo dia’’. 

2. Reestruturando Pensamentos Negativos

Uma vez que tenhamos identificado pensamentos distorcidos, podemos trabalhar para reestruturá-los. Ou seja, isso envolve questionar a validade de nossos pensamentos e buscar evidências que os apoiem ou contradigam, utilizando técnicas como o Exame de Evidências (Leahy, 2018). Por exemplo, se alguém está pensando “Essas coisas só acontecem comigo, eu sou muito azarado mesmo”, é importante procurar exemplos de momentos em que as coisas deram certo ou quando algo semelhante aconteceu com outra pessoa. Essa prática ajuda a criar um pensamento mais realista e equilibrado. 

3. Desenvolvendo Autocompaixão

A autocompaixão é uma parte vital da resiliência mental. Muitas vezes, somos nossos próprios críticos mais severos, o que pode minar nossa capacidade de lidar com momentos difíceis. Nesse sentido, a Terapia Focada na Compaixão (TFC) é uma das terapias que tem foco no sentimento de vergonha experimentado por todos nós em algum momento e busca tornar o paciente menos hostil consigo mesmo, desenvolvendo seus sistemas de apoio interno e motivando ele a entrar em contato com o conteúdo doloroso que foi internalizado (Lucena-Santos, 2015, Almeida et al, 2021). Dessa forma, fica claro que a TFC é aliada da TCC na jornada de ensinar ao paciente como ser mais gentil consigo mesmo e diminuir a autocobrança. 

A ausência desse cuidado consigo mesmo pode resultar em uma mentalidade crítica e autocrítica, levando a um ciclo de autossabotagem e desânimo. Por analogia, sem autocompaixão, as adversidades e fracassos podem ser percebidos como evidências de inadequação pessoal, o que pode gerar estresse crônico, ansiedade e depressão (Ferreira, 2014). 

4. Construindo Habilidades de Enfrentamento

A TCC também enfatiza o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento eficazes. Nesse sentido, a TCC inclui o aprendizado de manejar as demandas por meio de estratégias como a modificação de crenças centrais que são desadaptativas ao paciente, a meditação, a regulação emocional, o foco na resolução de problemas e o Plano de Ação (Beck, 2022). Ou seja, ao dominar essas habilidades, podemos enfrentar os momentos mais difíceis com mais tranquilidade e foco. 

Entretanto, a falta de um Plano de Ação pode levar a uma sensação de desamparo e desesperança, alimentando pensamentos negativos automáticos e emocionais intensos. Em outras palavras, isso pode resultar em comportamentos disfuncionais, como evitar situações desafiadoras ou recorrer a estratégias de enfrentamento não saudáveis, como a negação (Beck, 2022). 

5. Estabelecendo Metas Realistas

Estabelecer metas realistas é outra parte importante da resiliência mental. Afinal, muitas vezes, podemos nos sentir sobrecarregados quando nossas metas são muito ambiciosas ou impossíveis de alcançar. Portanto, a TCC nos ajuda a definir metas específicas, mensuráveis e alcançáveis. Nesse sentido, um dos meios mais utilizados para isso são os Planos de Ação, elaborados em conjunto entre terapeuta e paciente, que envolvem itens como elaboração de atividades, monitoramento de pensamentos automáticos, engajar-se em atividades para melhorar o humor e várias outras (Beck, 2022). Se interessou? Então entre em contato com a NOSCO e comece o seu próprio trabalho em direção aos seus objetivos!

6. Fortalecendo o Suporte Social

Ninguém enfrenta momentos difíceis sozinho. Dessa forma, a TCC salienta a importância do apoio social e como podemos fortalecer nossos relacionamentos. Ou seja, ter amigos e familiares que podem nos apoiar emocionalmente é um recurso valioso quando enfrentamos situações difíceis (Rodrigues e Madeira, 2009, Santos et al, 2002, Zanine et al, 2009). Além disso, aprender a comunicar nossas necessidades e sentimentos de forma eficaz pode fortalecer nossos laços sociais. 

Juliano e Yunes (2014) salientam a importância das redes de apoio social para a construção da resiliência individual, familiar e comunitária tanto quanto diversos outros artigos com grupo variados comprovam que indivíduos que possuem rede de apoio possuem mais resiliência frente a desafios (Resende et al, 2010, Andrade et al, 2022, Germano e Colaço, 2012). 

7. Praticando a Aceitação

Nem todos os problemas podem ser resolvidos imediatamente, portanto, a TCC reconhece a importância da aceitação quando isso ocorre. Aprender a aceitar as coisas que não podemos mudar nos ajuda a direcionar nossa energia para o que está ao nosso alcance (Beck, 2022). Dessa forma, a aceitação reduz a luta constante contra a realidade e nos torna mais resilientes diante das adversidades.

Robertson (2019) cita que as pesquisas mostram uma correlação direta entre aceitação e maior resiliência. Vara et al (2017) discorre sobre o papel da aceitação na resiliência de jovens universitários e chegou a conclusão de que a aceitação de si e da vida no geral é um dos principais fatores preditores de estresse, ou seja, quanto menos aceitação, mais estresse. 

8. Promovendo a Autonomia

A terapia cognitivo-comportamental também incentiva a autonomia. Afinal, quando nos sentimos no controle de nossas vidas, somos mais capazes de enfrentar os desafios que surgem. A TCC ajuda os indivíduos a identificar áreas em que podem tomar decisões e agir de forma independente, fortalecendo assim sua resiliência mental.

Nascimento (2016) explora publicações com o público idoso como alvo e evidencia que a  autonomia física e mental, assim como as redes de apoio, são de suma importância para lidar com as adversidades do envelhecimento. 

Conclusão: Fortalecendo a Resiliência Mental

Em conclusão, a resiliência mental não é um dom inato, mas sim uma habilidade que pode ser cultivada e aprimorada ao longo da vida. A terapia cognitivo-comportamental fornece ferramentas valiosas para desenvolver essa capacidade, desde a identificação de pensamentos distorcidos até a promoção da autocompaixão e do enfrentamento eficaz. Dessa forma, ao praticar essas técnicas e abordagens, podemos construir forças que nos permitem enfrentar os momentos mais difíceis com confiança e resiliência. Portanto, lembre-se de que buscar a orientação de um profissional de saúde mental treinado pode ser fundamental nesse processo de construção da resiliência mental.

Referências:

LEAHY, R. L.. (2018). Técnicas de Terapia Cognitiva: Manual do Terapeuta. (2a ed.) porto alegre. Editora Artmed. 

LUCENA-SANTOS, Paola. PINTO-GOUVEIA, José. OLIVEIRA, Margareth da Silva. Terapias Comportamentais de Terceira Geração. Guia Para Profissionais. 2015. Editora Sinopsys. 

Almeida, N., Rebessi, I. P., Szupszynski, K., & Neufeld, C. B. (2021). Uma intervenção de Terapia Focada na Compaixão em Grupos Online no contexto da pandemia por COVID-19. Psico, 52(3), e41526. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2021.3.41526

BECK, Judith S. Terapia Cognitivo Comportamental: Teoria e prática. 3 Edição. 2022. Artmed. 

Rodrigues, V. B. & Madeira, M. (2009). Suporte Social e Saúde Mental: revisão da literatura. Revista da Faculdade de Ciências da Saúde. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa, 390-399. 

Santos, S. R. dos ., Santos, I. B. da C., Fernandes, M. das G. M., & Henriques, M. E. R. M.. (2002). Qualidade de vida do idoso na comunidade: aplicação da Escala de Flanagan. Revista Latino-americana De Enfermagem, 10(6), 757–764. https://doi.org/10.1590/S0104-11692002000600002 

Zanini, D. S., Verolla-Moura, A., & Queiroz, I. P. de A. R.. (2009). Apoio social: aspectos da validade de constructo em estudantes universitários. Psicologia Em Estudo, 14(1), 195–202. 

Reppold, C. T., Mayer, J. C., Almeida, L. S., & Hutz, C. S. (2012). Avaliação da Resiliência: Controvérsia em Torno do Uso das Escalas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 25(2), 248-255. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/prc/v25n2/a06v25n2    

Hutz, C. S. (Org.) (2014). Avaliação em Psicologia Positiva. Porto Alegre: Artmed. 

Ferreira, Liliana Catarina Lourenço. Associações entre a resiliência, a autocompaixão e a orientação temporal na adolescência. Universidade de Coimbra. 2014. 

Juliano, M. C. C., & Yunes, M. A. M.. (2014). Reflexões sobre rede de apoio social como mecanismo de proteção e promoção de resiliência. Ambiente & Sociedade, 17(3), 135–154. https://doi.org/10.1590/S1414-753X2014000300009

Resende, M. C. de ., Ferreira, A. A., Naves, G. G., Arantes, F. M. S., Roldão, D. F. M., Sousa, K. G., & Abreu, S. A. M.. (2010). Envelhecer atuando: bem-estar subjetivo, apoio social e resiliência em participantes de grupo de teatro. Fractal: Revista De Psicologia, 22(3), 591–608. https://doi.org/10.1590/S19 84-02922010000900010 

Andrade, B. G. de ., Assis, C. A. de ., Lima, D. C. de M., Neves, L. F., Silva, L. A. da ., Silva, R. C. da ., Fracolli, L. A., & Chiesa, A. M.. (2022). Apoio social e resiliência: um olhar sobre a maternidade na adolescência. Acta Paulista De Enfermagem, 35, eAPE03341. https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AO03341 

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Germano, I. M. P., & Colaço, V. de F. R.. (2012). Abrindo caminho para o futuro: redes de apoio social e resiliência em autobiografias de jovens socioeconomicamente vulneráveis. Estudos De Psicologia (natal), 17(3), 381–387. https://doi.org/10.1590/S1413-294X2012000300005 

Robertson, D. (2019). Resiliência. BOD GmbH DE. 

Vara, N., Fernandes, A., Querós, C., & Pimentel, M. H. (2017). Resiliência e stress em estudantes universitários. In Congresso da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Ordem dos Psicólogos Portugueses. 

American Psychological Association. Speaking of Psychology: What you know about aging is probably wrong, with Manfred Diehl, PhD. Episode 234. Abril, 2023. Disponível em: 

https://www.apa.org/news/podcasts/speaking-of-psychology/ageism Acesso em 14 de setembro de 2023. 
Nascimento, M. C. do, & Calsa, G. C. (2016). Resiliência e idosos: Revisão da produção acadêmica brasileira, 2000-2015. Revista Kairós-Gerontologia, 19(1), 255–272. https://doi.org/10.23925/2176-901X.2016v19i1p255-272

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